terça-feira, 9 de março de 2010

Temo que usa esses plural

Por Jéssica Bueno

     Segundo meu professor de jornalismo impresso, uma pessoa só pode falar usando argumentos referentes ao que ela estuda. Eu estudo comunicação social, então, é sobre isso que vou falar agora.
     Já faz muito tempo que as pessoas estão se esquecendo de que as palavras mudam de forma para acompanhar quantidade. Aposto que ninguém sabe quando isso começou, talvez entre um “vire as esquerda” ou algum apressadinho que se enrolou para xingar mais de uma pessoa: “vão tudo à merda seus fio da mãe”.
     Daqui a pouco a principal caracterização da linguagem popular não será mais o uso das gírias, mas o não uso do plural. Na briga deste com o gerundismo eu nem ao menos quero ficar para ver quem ganha. Imagine se houver um empate, já é ruim o suficiente viver colocando os “esses” mentalmente nas palavras quando as pessoas que estão falando comigo esquecem, ou tendo arrepio quando escutar “Eu vou estar ligando para você”, ouvir uma mistura como “Nós vamo estar mandando as coisa pra você ainda essa semana” é a morte da cultura linguística!
     Temo escutar crianças cantando: “Ciranda cirandinha vamo tudo cirandar, vamo dá a meia volta, volta e meia vamo dá”. Pergunto-me se os jovens estão aprendendo errado em casa ou na escola, não mais de uma vez escutei professoras dizendo “vamo guarda as canetinha agora”. Talvez as pessoas estejam se esquecendo que o bom uso de sua língua também é educação. Logo, se a sociedade não se corrigir, em cinco décadas faculdades exigirão livro de Camão para o vestibular e adolescentes escreverão sobre a ditadura de Getúlio Varga.
     Talvez hoje essa observação seja um cúmulo, contudo parece que as pessoas só decidem mudar seus hábitos quando as coisas chegam ao extremo. Tal fato ficou evidente com o aquecimento global, é algo como “Nossa, as geleiras vão derreter daqui a alguns anos, logo teremos que tomar uma atitude - (1995)”, nada foi feito nesse meio tempo para impedir as catástrofes biológicas, até que elas finalmente começaram a ocorrer e as pessoas a se preocupar: “Nossa, as geleira tão derretendo, agora temo que fazer alguma coisa – (2006)”.
     A vida só acaba com a morte, a cultura e o planeta com a ação viva das pessoas.

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