terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A supervalorização do silêncio

Por Laís Campelo

     Boa tarde, seguidores do Abra Aspas!
     Primeiramente, queria agradecê-los pela boa recepção e crítica ao meu primeiro post! Desde então, tenho pensado em milhares de novos assuntos para abordar nessa coluna que me pertence, e, ao tentar transcrever meus pensamentos para o papel (ou tela, no caso), me deparei com uma questão que vem tomando enorme proporção nos últimos tempos. E (por que não?) o nosso próprio tempo.
     O barulho na cidade parece ter se tornado parte essencial e inseparável dela. Por sua vez, os moradores, impassíveis de contê-lo, parecem ter se acostumado a ele. É o trânsito na rua, o canil na casa do vizinho, o bar/balada do momento que abriu no seu bairro, a reforma que nunca termina, o chefe gritando, aquele carro-propaganda com um alto falante em cima, impossível de não escutar, rondando quarteirão por quarteirão...
     Eu, por exemplo, tenho como vizinhos da frente uma Igreja que faz questão de colocar os alto-falantes na porta, cantar e gritar com todas as suas forças toda manhã, tarde e noite, inclusive nos fins-de-semana. E ao lado da tal Igreja, uma família muito sem-noção que adora uma rave no quintal, passando por funk, pagode, samba, sertanejo, tecnobrega, rap, psytrance, e assim vai... (principalmente nos dias em que preciso fazer um trabalho importante, estudar, ou simplesmente descansar na véspera de um vestibular). É, amigos. Paciência é uma virtude. Rara e escassa virtude, aliás.
     Todos têm ao menos um motivo de desconcentração diária, tanto no trabalho, quanto em casa. E todos tentam, durante suas férias, procurar o oposto de sua realidade: lugares calmos, tranqüilos, silenciosos. Chegam a gastar fortunas para se refugiar da loucura atual da sociedade, buscando spas, campings, pousadas, até o fim do mundo, se preciso for. Algo que deveria ser um direito pessoal obrigatório de cada um, de não ter seu espaço interferido pelo desrespeito alheio, tornou-se um valor esquecido e sem importância. Sem importância para os que desrespeitam, é claro. O silêncio é, hoje, um valor inestimável.
     Logicamente, em alguns casos, os ruídos são inevitáveis e nada mais do que sinais audíveis dos progressos na cidade, construções, reparos, consertos e melhorias. Quando interrompidos, a própria população saberá que os benefícios poderão ser usufruídos a qualquer momento.
     O direito de um acaba onde o do outro começa, e, sendo assim, os casos restantes não se justificam. Se um homem quer festejar na sua residência, por exemplo, obviamente ele possui esse direito. Mas o vizinho do homem, que gostaria apenas de descansar com a família no seu dia de folga, não é obrigado a compartilhar a algazarra e ter a terrível sensação de privacidade invadida e perda do direito de decidir o rumo da própria vida.
     Sempre esperando fazê-los refletir sobre os mais diversos assuntos e acrescentar algo, por menor que seja, às suas vidas, encerro a coluna por hoje, queridos leitores. Dividam seus pontos de vista comigo pelos comentários, e contem suas próprias experiências sobre o tema!

Um comentário:

Frejat rapá disse...

Concordo e expando o tema a outras areas. Melhor ainda, a outros sentidos:

Ao nosso redor infesta - se imagens, cheiros, sensações, e até mesmo o sabor desagradavel do que muitas vezes detestamos mas devido a nossa querida (¬¬) vida social suportaremos pelo resto de nossas vidas enquanto nela vivermos. A vida social nos restringe à regras e muitos "sapos a serem engolidos". Além disso, estamos à mercê de leis que invadem impetuosamente nossa privacidade tal como o funk na laje ao lado. Apesar disso tanto a vida social como as leis que regem nossas vidinhas mediocres tem seus "pros" e são neles que a maioria desses seresinhos humanos encontram o que chamam de felicidade. O assunto é amplo...

Mas ainda preferiria e reclusão e anarquia
A companhia do som uníssono da montanha fria.

Beijos Lali,

Luan.

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