sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Uma Host Family muito louca

Por Marina Luar

     Para os que não sabem, intercâmbio cultural consiste num estudante de um país ir viver por certo período de tempo na casa de uma família em outro país. Esse estudante não só vivenciará uma nova cultura, mas emergirá por completo nesta e fará parte da sociedade do tal país,. Morando com uma família nativa, indo à escola local e tendo uma vida “normal” de qualquer outro habitante. Bom, essa parte da vida normal não é bem assim...
     As famílias que resolvem hospedar intercambistas são completamente voluntárias, te alimentam e abrigam esperando em troca apenas a experiência de conhecer uma nova cultura através de um adolescente que vem de outro lugar no mundo.
     Temos que ser realistas, alguém que topa hospedar um desconhecido dentro de casa por um ano tem que ser no mínimo corajoso. Tentem se colocar nessa situação, um gringo abrindo sua geladeira, comendo da sua comida, assistindo TV na sua sala, fazendo as necessidades fisiológicas no seu banheiro... Enfim, literalmente morando na sua casa. Realmente não deve ser fácil, e nem sei se eu mesma aguentaria. Porque é muito legal conversar com um gringo, conhecer as curiosidades de outros países e ensinar as do seu próprio, mas todo mundo têm seus dias de mau humor e é difícil aguentar os de alguém que você mal conhece e nem entende sua língua.
     A família que me hospedou inicialmente era um tanto atípica, peculiar, se assim posso dizer. Notei desde o momento que os vi pela primeira vez no aeroporto: um homem branco, de cabelos loiros compridos, muitos brincos nas orelhas, tatuagens ocupando o braço, vestido com jaqueta de couro (estilo motoqueiro) e coturno preto. Foi um choque ver aquele homem pela primeira vez, ainda mais sabendo que ele seria meu “pai” por um ano. A minha mãe hospedeira era uma mulher grande, com os cabelos curtos arrepiados tingidos de vermelho. Ela usava uma blusa de oncinha (que continuou usando por uma semana seguida, diga-se de passagem).
     Foi essa a primeira visão que tive da minha host-family, e se tivesse ficado por aí estaria ótimo. Pensei comigo mesma “dane-se as aparências, tudo bem que eles são meio esquisitos... ser diferente é normal...”, estava numa boa, aberta pra tudo. Quando entrei no carro, já tinha relevado o fato deste ser meio velho e capenga, mas o cheiro que estava dentro dele era quase insuportável. Mesmo com um frio lascado e a chuva que caia do lado de fora tive que abrir a janela. O fedor era de cachorro molhado, feno de cavalo, coco de gato... sei lá, tudo junto e misturado. Era ruim, viu. Mesmo assim não deixei de pensar positivo, com esperanças de que a casa seria o máximo e eu nem andaria tanto de carro anyway.
     Após algum tempo (psicológico) de viagem, e uma eternidade de campos verdes, pastos e nada de civilização, chegamos à uma cidadezinha, com umas casinhas de tijolinhos que pareciam de boneca. Fiquei suuuuper empolgada, porque era lindo. Até que enfim uma boa notícia, a cidade era uma gracinha, algo que eu nunca tinha visto na vida. Um canal atravessava a cidade, e era como num sonho de tão lindo. Fiquei realmente encantada.
     Quando o carro parou olhei pela janela e tentei ao máximo acreditar que aquela era a casa de outra pessoa, e que paramos por ali ocasionalmente e que logo iríamos para a casa onde eu moraria. Mas não, nunca foi tão frustrante ouvir “Chegamos!”. Dentre todas as casas fofas e lindas, com jardins e flores ao estilo mais holandês, estava essa. Um matagal na frente e cadeiras quebradas caídas na varanda. As janelas estavam sujas como se nunca houvessem tido contato com um pano úmido em sua existência. Mas eu com meu instinto poliana não me desesperei, minha última esperança: dentro de casa.
     Quando abriram a porta sim, senti o desespero subir minha espinha e uma vertigem me preencheu. A casa era um lixo.
     É difícil documentar o que senti naquele momento, naquela situação. Eu que havia acabado de atravessar o mundo em nome de um sonho, parada ali me dava conta que acabava de sofrer uma das maiores decepções da minha vida.
     Detalhes da casa-lixo e a sequência do que aconteceu nessa novela você encontrará no próximo episódio: sexta feira que vem nesse mesmo batlocal!
     Kussjes!

Um comentário:

Isabéla Clude disse...

demais neguinha!

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