quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O Amor Verdadeiro Não Tem Vista Para o Mar

Por Izadora Pimenta

     Não há nada mais paulistano do que um céu cinzento. O costume faz amar, por mais caótico que seja... São Paulo é trânsito, chuva e vida agitada. Apesar das tragédias, entra também a poética. E a poética nunca se encaixou tão em em um álbum inteiro como em "Tudo Que Eu Sempre Sonhei", dos Pullovers.
     Todas as canções são como 'um coração paulistano em forma de música', definição que me veio à cabeça na primeira audição do álbum completo no TramaVirtual e que me fez barganhar o disco físico em uma promoção do Rock 'n' Beats.
     Poetizando várias temáticas, como a vida comum de um paulistano (como em "Tudo Que Eu Sempre Sonhei", "Marinês" e "Marcelo ou Eu Traí o Rock"), ou uma brincadeira com a Revolução de 1932 ao declarar paixão por uma carioca (1932 C.P.), apologias poéticas à chuva ("O Amor Verdadeiro Não Tem Vista para o Mar" e "Quem me dera houvesse trem") de maneira simples e deliciosa de se escutar. Não há como botar defeito.
     Seria como falar que os Pullovers são como os Los Hermanos paulistanos. Mas seria injustiça com ambas as bandas e suas características únicas.
     Indiscutivelmente, o CD por completo é uma pérola da música nacional que, infelizmente, não é conhecida por todos. Em tempos de melodias grudentas com letras esquisitas, ainda temos muito por aí que ainda nos preserva o doce, o belo, a poesia sem precisar de rima forçada. Em tempos de São Paulo caótica, ainda temos quem acredita na beleza oculta desta cidade.
    Afinal, o que é São Paulo senão a Londres brasileira? Construções arquitetônicas belíssimas constantemente ignoradas por quem vive a vida com pressa. Pelos carros, inúmeros carros, que passam e acabam com o ânimo da beleza. Mas ainda é cobiçada, almejada, mesmo sem mar. "Que bom", diz a música do Pullovers, "assim se pode amar!".
     Mas não gostaria que o ânimo da beleza acabasse. Brasileiro tem mania de ver o defeito - e somente ele - de todas as coisas e ignorar o que ainda existe de bonito por aqui. Quando gostamos de uma pessoa, ignoramos seus defeitos. Então pense em São Paulo como uma pessoa. Pense no seu local de origem, seja lá qual ele for, como uma pessoa. Vocês construiram uma história, você gosta de tal coisa especial que só ela tem.
     Então se pode gostar do céu cinzento como calmo. Se pode olhar para a Estação da Luz e imaginar que não há nada mais magnífico do que ela. Se pode olhar para a Avenida Paulista e ver o quanto ela cresceu. Se pode amar, sim, algo que todo mundo odeia.
     E acho que, em amar São Paulo, os Pullovers são experts.

Pullovers tocando “O Amor Verdadeiro Não Tem Vista Para O Mar” em cima da Ponte do Limão


     (Recomendações da colunista – Lição de Casa; O Amor Verdadeiro Não Tem Vista Para o Mar) Baixe o disco do Pullovers

Um comentário:

Anonymous disse...

brilhante mais uma vez!!
e a banda é boa

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